segunda-feira, 16 de setembro de 2013

“UM ADEUS À MARÍLIA”

                                           
DE UM LADO: A mãe de Marília e Luciana
DE OUTRO LADO: A mãe de Ana Flávia e Ana Júlia.


A noite de Sexta feira, dia 13 de setembro /2013, estava triste, no ar havia incompreensão do mundo e das ações do ser humano. Nesta data esta blogueira que aqui escreve saiu de sua casa às 23:00 horas para uma visita triste: prestar uma última homenagem para aquela moça agradável, gentil, educada - Marília Rodrigues Martins minha jovem professora de italiano, na escola de idiomas Casaréu.

Uma jovem que um dia me disse que gostaria de cursar Direito e que incentivei afirmando que era um excelente curso, ainda que o exercício da advocacia tivesse seus espinhos, contudo o Direito oferecia um leque de opções, em concursos públicos. E ainda que não desejasse exercer a advocacia ou a magistratura ou ainda abraçar o Ministério Público havia outras opções para a carreira jurídica. Disse-lhe que o estudo do Direito é apaixonante e no fim nos tornamos seus eternos namorados ou suas eternas namoradas. Na ocasião desta conversa brinquei com Marília dizendo que estudar Direito era perigoso para moças bonitas e solteiras, pois acabavam se envolvendo com os estudos jurídicos e depois não iriam querer se casar, pois já tinha um amor grande: "O Direito."

Marília naquele período foi convidada para ser a interprete de uma juíza italiana que veio ao Brasil para ministrar palestras no Congresso Internacional Jurídico em Uberlândia. Na ocasião participei do evento e Marília exerceu sua função de tradutora maravilhosamente bem.  Encontramos-nos no saguão do Center Convention Uberlândia e ela me perguntou o que eu achei da sua atuação como tradutora... Excelente, digna de parabéns, pois tudo que Marília fazia era com dedicação, com amor, com muita responsabilidade.

Posteriormente em uma das nossas conversas Marília disse que estava em dúvida se cursava Direito ou Turismo. Ela desejava fazer Direito, talvez por admirar o tio promotor público, sobre o qual Marília falava com respeito e admiração. Todavia o turismo era seu sonho de viajar, conhecer muitos países, pessoas de todos os lugares...as ilhas brancas e países roxos, amarelos, azuis que vemos nos mapas da escola...todos distantes, mas cada um com sua beleza.

Marília era prestativa e não precisava pedir ajuda, ela se oferecia para colaborar em tudo que estivesse ao seu alcance, e assim muitas vezes me ajudava em traduções de textos em italiano ou inglês. Nunca escondi minha admiração por aquela moça, pelo seu potencial, pela sua inteligência e principalmente pela beleza interior que trazia dentro de si. Era bonita por natureza. Marília possuía algo que poucas moças aos 23 anos de idade possuem: determinação, sonhos, objetivos cuidadosamente traçados, projetos de vida e muita responsabilidade.

Em pouquíssimo tempo ela conquistou a nós todos, não só como professora, mas também como pessoa. Marília não se despediu quando retornou para Itália, não disse tchau, apenas se foi, talvez porque não quisesse despedidas, havia estreitado amizades com os alunos e sabia do nosso carinho por ela.

Ela me deu o número do telefone da casa do pai, com quem estava morando e  disse que se eu precisasse falar com ela, podia ligar a qualquer hora. Telefonei assim que soube na escola que Marília iria retornar para a Itália. Queria  desejar-lhe boa sorte, sucesso, felicidade, mas ela já tinha partido. Conversei alguns minutos com o pai dela e senti que sua voz estava triste com a partida da filha. 

Marília estava de volta à Itália, país que ela gostava muito e não escondia de ninguém o quanto gostava, sua mãe também estava na Itália, certamente com muita saudade. Na última aula Marília me presenteou com um cd “Chico Buarque in italiano”. Todos os títulos das músicas estão lá escritas com sua caligrafia bem desenhada, até com a caligrafia Marília era cuidadosa - belíssima caligrafia.

Foi com a última imagem que guardei na memória de Marília que me dirigi para a Funerária Ângelo Cunha na noite de sexta feira. Sentia-me estranha, culpada por não ter motivado Marília a ficar em Uberlândia e me perguntava que grande futuro teria Marília em nossa cidade? Talvez ela tivesse cursado Direito e seria agora uma nobre representante do Ministério Público, como seu tio ou então uma juíza percorrendo com sua elegância e seus saltos altos os corredores do fórum.  Talvez Marília estivesse em Belo Horizonte responsável por uma promissora agência de turismo, já que ela cogitou cursar Turismo na Capital do Estado de Minas Gerais. 

É diante de  acontecimentos tristes que sempre nos questionamos o quê poderíamos ter feito para evitar que acontecesse – Somos humanos e não desejamos que as pessoas queridas sofram ou nos deixe e quando acontece uma fatalidade passamos a nos fazer muitas cobranças, pois temos um coração e uma alma.

Até a noite de 13 de setembro/2013 eu não conhecia a família de Marília, digo mãe e irmãos, quanto ao pai apenas por uma conversa via telefone. Conhecia o tio e sua esposa que foi minha colega no curso de Direito. E sobre esta tia Marília contou-me que foi sua professora no curso de inglês e como aqui em Uberlândia é costume toda criança, chamar as professores de tia, Marília chamava a professora de inglês de tia. Marília sorriu meio brincalhona ao contar que a tia- professora de inglês acabou sendo sua tia de verdade, pois casou-se com seu tio Fernando. 

Ao chegar ao velório foi justamente o tio Fernando que encontrei, depois sua esposa que fazia algum tempo que não eu via, mas naquele momento não havia nenhuma alegria no reencontro das duas colegas de faculdade. Todos os parentes estavam tristes e abatidos. Os amigos da família tentavam levar-lhes algum conforto - Conforto será é que é possível dar a alguém que perdeu um ente tão querido?

Natália, a mãe de Marília,  eu não conhecia, mas precisava dizer algo a ela, mas  o quê dizer? Se  eu nem  a conhecia. Fui até Natália que não se afastava nem um minuto do caixão da filha, como se quisesse protegê-la de todos os males do mundo. Apresentei-me e também minha filha, que naquela noite me acompanhava. Naquele momento não fui capaz de dizer nada porque as lágrimas não me permitiram. Desculpei-me e ao contrário, do que deveria ser: Natália é que me disse palavras de fé e de esperança e não eu a ela. – Que pessoa maravilhosa é Natália!

Natália disse-me que não tinha mais lágrimas para chorar, pois desde que recebera a noticia da morte da filha, não fazia nada mais além de chorar. Disse-me ainda que nenhuma mãe poderia imaginar a dimensão da dor que é perder uma filha. Que é uma dor tão grande que não tinha nem como contar. 

E que essa  dor se torna insuportável quando se perde a filha por um ato tão brutual, quando a vida arrebata cruelmente a filha da sua mãe. E no caso dela Natália a dor era dupla, pois não foi só uma vida que lhe foi subtraída, mas duas vidas: da filha e da neta que nasceria perto do natal.


Segurei com força a mão delicada da minha filha Ana Flávia, senti um terrível medo de perdê-la  e segurar sua mão foi instintivo  como se eu tivesse medo de alguém  tirá-la de mim,  como se eu estivesse protegendo-a de todos os perigos deste mundo cruel. Como se eu prendesse sua mão na minha ninguém iria fazer-lhe mal algum.

O simples pensamento de que eu poderia perder minha filha, de estar eu,  ali como Natália zelando pelo corpo da filha, passando os últimos momentos a seu lado, sabendo que não a veria mais. Aquele triste pensamento me fez perder o chão e senti uma dor indescritível no coração.  Compreendi o tamanho da dor e do sofrimento daquela mãe que  e viajou muito , cruzou dois  ou mais oceanos para trazer a filha de volta para casa. Aquela mãe que ignorava o cansaço, o fuso horário , a noite triste lá fora para ficar ali firme como uma rocha, passando as últimas horas que lhe estava sendo permitido ficar ao lado da filha já sem vida. Mesmo não  a conhecendo senti tanto carinho, tanto respeito por aquela mãe.

Natália não tinha ódio nos olhos, não tinha ganas de vingança, Natália tinha bondade, um coração triste e dolorido e uma fé inexplicável. Uma pequena e frágil mãe, com o coração humilde ao lado do caixão da filha, mas com uma luz dentro de si capaz de iluminar aquela grande e triste sala de luz tênue da funerária. 


Naquela triste noite conheci também a irmã de Marília, uma moça bonita, gentil e educada, que não reservou aquele momento somente para sua tristeza, ao contrário era atenciosa com todos e não guardava ódio em seus olhos, tristeza sim. Permaneceu lado a lado com a mãe, não se afastava, presente a cada segundo daquela despedida triste. Em nenhum momento não vi nem a irmã, nem a mãe e nem o pai demonstrar revolta ou ódio, apenas tristeza e dor. Vi naquela família seres humanos completos ligados tanto na dor, como na emoção, no sofrimento e na perda insuportável.

Fiquei sentada no salão, ali juntinho da minha filha e pensava comigo mesma: - Natália uma mãe de duas filhas assim como eu. Uma vai embora para sempre  e ela não poderá mais abraçar, conversar, brigar, dizer que ama e a outra Luciana será sempre seu apoio, sua força, sua esperança, seu bem maior, seu porto seguro. 

E eu também tenho duas filhas, uma aqui comigo bem juntinha, conversando baixinho - Ana Flávia que nos seus 19 anos, nunca tinha estado em um velório e só conseguia me dizer: como tudo isto é triste, o que eu digo, o que faço, não conheço ninguém. 

Minha filha você conhece sua mãe, fica aqui pertinho de mim, segura na minha mão, nunca me deixe, promete, que nunca vai me deixar sozinha, que não vai embora levando minha alegria, deixando lágrimas e dor. Promete Fazinha, que ainda vamos brigar muito!

Meu pensamento voou para minha outra filha - Ana Júlia que esta lá em casa dormindo, sim está eu não a perdi, não posso perdê-la nunca. Amanhã quando ela acordar terá que prometer que nunca vai me deixar. A Jú tem que me prometer que nunca vai embora, que não vai me deixar sem ela! 

Meu Deus como é grande e inexplicável o amor de uma mãe para com seus filhos. O amor de Natália por Marília vai resistir a morte e ao tempo, da memória nunca será apagado.

Compreendi naquele momento que eu estava sofrendo, pelo simples pensamento que eu talvez  pudesse perder minhas filhas. Senti um terrível medo de perder minhas filhas. Aqueles pensamentos tristes me fizeram compreender  o quão grande era o sofrimento de Natália. Senti uma vontade imensa de dizer-lhe que sua dor era também minha, que seu sofrimento era também meu, mas não tive coragem e fiquei lá sentada segurando forte a mão da minha filha.

Passada as horas ali sentada, minha filha me chamou para ir embora, na saída encontrei o pai de Marília que me perguntou se eu havia conseguido aprender italiano e brincou dizendo que a filha nos chamava de meus aluninhos. 

Curioso é que eramos todos adultos, mas carinhosamente eramos mesmo seus aluninhos. Aprendi sim, pai , disse eu, pois minha professora de italiano era a melhor, a mais linda, a mais gentil e nós aluninhos, tínhamos muito carinho e admiração pela nossa jovem professora. O pai deu um sorriso tímido, talvez pensando que Marília, pelo pouco tempo que passou pelas nossas vidas escreveu uma bonita página na história de sua vida. Talvez o sorriso de um pai orgulhoso da filha que se foi, porém que em seu pouco tempo  daqui deixou uma construção de incontestáveis valores.

Quando liguei o carro para voltar para casa, já de madrugada, imediatamente o som automático do carro ligou e o CD de música italiana começou a tocar:

Che cos'è? - C'è nell'aria qualcosa di freddo
Che inverno non è - Che cos'è?
Questa sera i bambini per strada non giocano più.
Ora so - Che cos'è questo amaro sapore
Che resta di te, quando tu:
Sei lontana e non so dove sei, Cosa fai, dove vai...  

(Fragmentos retirada da canção de Sergio Endrico  - Lontano dagli occhi)

Parecia que a canção que me  passar um triste adeus de Marília... uma mensagem de despedida.

ADDIO MARÍLIA... Voe com seu filho, o qual não lhe foi permitido trazer à luz...  Voe para um mundo novo, mais fraterno, mais puro, talvez cristão - Um mundo Marília onde a mulher não seja marginalizada: por ser mulher, nesta sociedade machista. 

Mulher diante da qual quem lhe roubou a vida deveria ter se ajoelhado, em uma homenagem à Maternidade. Vá Marília santificada pelo feto que leva dentro de si, amada por um Nazareno que certa vez passou por este mundo.

Adeus Marília vá sentar-se no seu trono e em versos imortais o poeta te retratará recitando:

"Que belezas, Marília, floresceram,
De quem nem sequer temos a memória!
Só podem conservar um nome eterno 
Os versos, ou a história....
É melhor, minha Bela, ser lembrada,
Por quantos hão de vir, sábios humanos,
Que ter urcos, ter coches, e tesouros,
Que morrem com os anos.
Voa sobre os Astros, voa,
Traze-me as tintas do Céu.”

(Tomás Antônio Gonzaga - jurista, poeta e ativista político luso-brasileiro)
***Os fragmentos dos versos acima foram retirados da sua obra lírica "Marília de Dirceu".





Tânia a mãe da Ana Flávia e da Ana Júlia deixa aqui estas palavras
 para Natália - mãe de Marília e Luciana.


                                            Tânia Ávila – Uberlândia - MG






Um comentário:

lalioblinger disse...

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